martes, 28 de agosto de 2012

PERIODICO PORTUGUES VATICINA BUEN FUTURO PARA EL SLOT


Uma brincadeira de adultos  Revista Notícias Magazine

Por Rita Dantas Ferreira Fotografia de Artur Machado/Global Imagens

Um é juiz, outro agente funerário, outro mecânico, outro é engenheiro civil. Têm em comum a paixão por carros de corrida em miniatura, verdadeiras réplicas dos reais, em escalas menores.Quando o filho recebeu uma pista de carros no Natal, foi António que vibrou. Há mais de trinta anos que não via slotcars. Durante anos, guardou cuidadosamente as pistas, os pneus, as palhetas, os carros miniatura dentro de uma caixa no sótão de casa. 
Uma brincadeira de adultos«O meu pai tinha ido ao El Corte Inglès, a Vigo, e ofereceu-me uma pista com 12 anos», conta António Maia, agora com 47 anos. Foi pela mão do pai que assistiu às primeiras corridas, em Vila de Conde. «Aos 18 anos, já trabalhava no ramo automóvel», diz o presidente do Clube Slotcar de Braga. Teve sempre o sonho de estar ligado à área mas os estudos e o trabalho afastaram-no da competição. Em 2007, numa conversa entre amigos, soube que existia um clube onde podia voltar a correr. Não hesitou. E a sala do clube bracarense ficava apenas a quinhentos metros do escritório de António. «Trabalho aqui há 29 anos e só há cinco anos é que descobri que existia», explica o agente funerário.Nas paredes do rés-do-chão da Praceta Amândio Ferreira onde funciona o clube, em Braga, não faltam molduras com páginas de jornais recortadas, revistas, fotografias de torneios. São quase 36 anos de história. As pistas estão montadas para os dois tipos de prova de slotcars: a de velocidade e a de rallye. A de velocidade, como o próprio nome indica, procura que os carros andem mais rápido para um melhor comportamento na pista. A de rallye tem subidas e descidas para dificultar a condução. 
António conhece meticulosamente os cantos da casa. Sabe de cor o nome, o local e a data de cada prémio que o clube já ganhou. Parece uma criança a falar sobre as competições. «Mas isto não é uma brincadeira. É um desporto a sério», avisa.A pouco e pouco, começam a chegar mais pilotos. Não há horários fixos. A duração dos treinos depende do grau de preparação e da prova a competir. Chegam a estar horas a fio a treinar. Bruno Martins, de 30 anos, entra despercebido na sala. Monta rapidamente o carro de corrida e, em poucos minutos, já tem o comando na mão. «Sou um apaixonado pelos carros», confessa o ex-funcionário público.O patilhão conduz o carro na calha e é através das palhetas que se estabelece contacto elétrico entre a pista e o carro - é por isso que se chamam slotcars, porque essa calha chama-se slot em inglês. E é com um comando que cada piloto consegue acelerar ou travar. Bruno conhece todas as peças. «É um desporto que exige concentração», fala enquanto percorre a pista com os olhos. O vício começou em 2001. 
Lê tudo o que pode na internet sobre a área e conhece de cor as marcas de referência, como a italiana Slot it. «As grandes empresas são espanholas e italianas», afirma Bruno. São também esses os principais adversários dos portugueses. «Os espanhóis são os melhores do mundo nesta competição», acrescenta. Mas os pilotos de Braga conseguiram fazer-lhes frente. Em Maio, Portugal esteve no pódio. Foi no Campeonato da Europa do Grupo C, nas provas de resistência de 24 horas, em Barcelona, que a equipa GT Team de Braga alcançou o histórico terceiro lugar.Paulo Mendes faz parte do grupo vencedor. Tem mais de 1600 carros miniatura em casa. «Não diga nada. A minha mulher só sabe de cem», pede, entre risos. Traz sempre consigo uma mala grande cinzenta. Lá dentro, está tudo dividido por secções: pneus, jantes, parafusos, palhetas. Paulo não tem ideia de quanto gastou ao longo dos últimos anos. Tem quatro marcas diferentes de carros e reconhece ao longe todos. Hoje treina para a prova de 24 horas, em que num período de oito horas os pilotos correm sem luz, num espaço apagado. «Há quem adormeça em pé», conta Paulo Mendes. A pista tem uns pequenos candeeiros que iluminam o percurso. 
«Se avariar, temos de tentar reparar. Podemos sofrer penalizações», explica António Maia.Cada competição tem um regulamento. Para participar, cada equipa pode pagar até 250 euros pela inscrição. Mas há preços mais em conta. Numa prova do clube, o valor é simbólico: quatro euros. Tudo começou no Rally Santos da Cunha, em 1987. A maior parte dos pilotos que aqui correm estiveram presentes na primeira grande prova de slots, em Braga. Emídio Peixoto, juiz, tinha 14 anos. Ficou em quarto lugar e foi premiado como o melhor piloto jovem. «Depois fui para Coimbra, andei à procura de um sítio mas o nível era muito inferior.»Voltou às pistas com 34 anos e nunca mais largou. «É preciso muito tempo e treino.» Algo que lhe falta com o excesso de trabalho no tribunal. «Os truques são os mesmos de há vinte anos», acrescenta, em tom de brincadeira. Com eles, vêm os filhos, as mulheres e até as mães. «Num domingo, pus a minha filha Benedita, com 5 anos, a correr contra a minha mãe, de 78 anos. A miúda estava colada no cronómetro porque queria ser mais rápida do que a avó», diz. Simone e César também andam por lá. «Hoje em dia, os miúdos fecham-se em casa. Concorremos com as playStations», queixa-se Emídio Peixoto. São os filhos de Augusto Amorim, outro piloto dos slotcars, os assistentes de serviço. Sempre que cada carro sai da pista, apressam-se a colocá-lo novamente na calha. O pai começou nisto cedo. Tinha 17 anos quando o amigo Nuno Aguilar o incentivou a participar no Rally Santos da Cunha. «Não sabia como funcionava», diz Augusto, com 44 anos. Comprou uma caixa e montou o carro sem nunca ter visto como se fazia. Conseguiu o terceiro lugar na prova de 1987. Começou a correr nas provas, sem treinos.
Nos carros de cada equipa, estão desenhadas as bandeiras e o nome de cada piloto. A GT Team é a única que tem o carro pintado de verde e amarelo. Augusto é brasileiro mas vive em Portugal há mais de trinta anos. Arrastou a família consigo. A mulher está sentada no sofá a ver novela da noite enquanto o marido monta o carro para os treinos. E contagiou o filho. 
«O miúdo quer fazer o próximo campeonato», afirma orgulhoso. Hoje é proprietário da GT Team, em Braga, e vende material para slotcars. Quando surgiu a oportunidade de ficar com o negócio, Augusto não perdeu tempo. Além da sede, é na loja que os pilotos treinam, trocam ideias ou simplesmente conversam no final do trabalho. «Os principais clientes são os meus amigos e por isso não tenho muito lucro.» Divide-se entre o trabalho de engenheiro civil, na câmara, e a loja. Sonha um dia participar nas três provas europeias de Espanha, Itália e Bélgica. «Não é fácil ir para fora. São muitos gastos.»
Os custos associados a este desporto não são extravagantes. Depende daquilo que cada um quer fazer. Um carro, em média, custa quarenta euros. «Mas é preciso torná-lo competitivo», acrescenta Paulo Mendes. 
Há carros de coleção que chegam a custar entre 1200 euros e três mil. Muitos entram na loucura de comprar dois modelos iguais, um para competir, outro para guardar. Para quem quer entrar como mera distração, os preços são mais acessíveis. 
«Por cem euros, é possível ter um carro com material e acessórios», diz Augusto Amorim.
Rui Mota é técnico de desenho da Portugal Telecom, tem 53 anos e pratica a modalidade desde 1978. É o mais velho do grupo e, segundo os colegas, «o mais expert no assunto». É ele que pinta todos os carros miniatura. Consegue distinguir verdadeiros e falsos. A brincadeira começou aos 7 anos, em Moçambique, quando o pai lhe deu algo diferente. Tem consciência da importância deste desporto na cidade. «Foi num sótão ao pé do mercado municipal que voltei a praticar», explica Rui. E nunca mais parou. 
«Passou por uma garagem de um pub, uma residência junto à estação de comboios, perto de uma escola até chegar ao atual clube», recorda. Ao seu lado, está o filho. Pedro Mota, de 21 anos, herdou o vício do pai, mas só nos últimos tempos é que se tem dedicado a sério. Criou uma equipa com alguns amigos, os gentleman drivers. «Aqui não há classes sociais ou faixas etárias. Na pista, temos todos a mesma idade.»
O número de interessados tem vindo a aumentar. Outro dia, entraram no clube dois polícias e pediram para treinar. Bruno Martins trouxe um amigo. Em Portugal, existe um sem-número de associações, clubes e fóruns especialistas na matéria. António Maia acredita que há muita gente que ainda desconhece este desporto mas que a primeira vez que participar não vai conseguir largar.
«É uma espécie de ginásio. Aqui conseguimos descomprimir», concluiu.
O Ronaldo dos slotcars
É como chamam a Luís Azevedo. Tem 18 anos mas já é um dos melhores do mundo na modalidade. Foi há cinco anos, pela mão de um amigo do pai, que teve o primeiro contacto com as pistas. «Treinava todas as tardes», comenta. No currículo conta com muitas vitórias nacionais e internacionais. «Estamos a nível mundial», acredita Rui Mota. E o Campeonato Europeu foi prova disso. «Os espanhóis começaram a assustar-se com as nossas aptidões. Os pilotos defendem que o boom dos slotcars em Portugal deve-se ao papel do Clube da Trofa na divulgação e realização de campeonatos. «Foram eles que desbravaram caminhos e deram o pontapé de saída», referem. O clube tem garantido as participações das equipas lusas em Espanha e Itália.
Pequena história dos carrinhos de corrida
Os primeiros slotcars datam de 1912 e foram vendidos nos EUA e começaram por correr em pistas de comboios elétricos adaptadas. A patente deste brinquedo, no entanto, foi registada só em 1936. Modelos mais ou menos rudimentares continuaram a ser feitos até aos anos de 1950, quando uma empresa inglesa chamada Southport transformou as corridas de carrinhos numa calha elétrica numa mania - havia pistas por todo o lado. Um pouco mais tarde, nos anos de 1960, os slotcars seduziram o mercado americano, as principais marcas, Aurora, Lionel e Ideal introduziram sistemas sem slot que permitiam aos carros ultrapassarem-se, mas nunca conseguiram grande adesão dos amantes da modalidade. Nos anos de 1980, os slotcars adormeceram, recuperando a glória nos anos noventa, ajudada pelo design por computador que operou grandes mudanças na construção dos carrinhos.

Fuente Revista Notícias Magazine




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